Contrariando o conselho do Fábio Fernandes de seguir os livros do William Gibson na ordem, estou lendo Pattern Recognition. Ainda li muito pouco, mas o livro parece um documento fiel da zeitgeist global no início deste século, mas ou menos como O Grande Gatsby foi na década de 20. Apesar da história intrigante, PR é mais um mapa dos territórios dos media que propriamente um romance. Talvez por isso eu sinta tanta urgência em lê-lo.
Como não li tudo entre as duas pontas, não posso falar sobre a evolução da literatura de Gibson, mas o último livro tem muito em comum com o primeiro. Há uma conciência contante dos objetos e marcas - mas, em vez de descrever, Gibson só chama na nossa memória seus atributos por seus nomes. Fico me perguntando se o livro vai ser compreensível em dez ou vinte anos, quando as referências corporativas se perderem.
Como na época em que li O Pêndulo de Foulcaut (que comprei hoje por quase nada num sebo) ou The Invisibles, Pattern Recognition parece ser um livro demiurgico. Ele força suas referências sobre o real. Eencefalopatia espongiforme e o filme Zapruder apareceram do nada depois referências no livro. Claro que a possibilidade de apofenia induzida existe.
A única coisa realmente decepcionante do livro é que ninguém - até onde eu tenha descoberto - largou na rede os pedaços de The Footage, os trechos miteriosos de imagens que são o motor do livro. Às vezes eu espero demais das pessoas...
Infelizmente, eu não tenho o livro. Achei um arquivo com ele num p2p da vida e descolei um Palm. É pior que papel, mas melhor que ficar sentado na frente desta tela o dia todo ou ficar sem ler.